Sem controlar imbróglio político, Lula perde autoridade para ditar rumos do País

Sem controlar imbróglio político, Lula perde autoridade para ditar rumos do País

Depois da decisão unânime do BC em manter inalterada a taxa Selic, Lula ficou sendo ‘os juros sou eu’

Por William Waack

No discurso na posse da nova presidente da Petrobras e na entrevista que deu para emparedar o Banco Central, o presidente Lula se apresentou como uma espécie de Luís XIV (aquele rei francês de “o Estado sou eu”) da economia brasileira. Depois da decisão unânime do BC em manter inalterada a taxa Selic, Lula ficou sendo “os juros sou eu”.

O monarca francês de fato mandava, mas Lula ainda não encontrou a rota para superar dois conhecidos problemas que o tornam impotente. Um deles é a alteração da relação de forças entre Legislativo e Executivo. O outro é o peso da questão das contas públicas.

Ambos estão intimamente ligados. O chefe do Executivo no Brasil perdeu parte relevante da capacidade de alocar recursos via Orçamento. Tornado ainda mais engessado por medidas que o atual governo adotou para lidar com a questão das contas públicas.

É bastante óbvio que o Congresso e o presidente têm visões distintas sobre como equilibrar as contas. Não importa se os motivos são republicanos, ou apenas visam a manutenção de interesses bem organizados, o Congresso está longe de assumir o combate às distorções tributárias que sucessivos governos (e os parlamentares) instituíram de mãos dadas.

Nem está disposto a apoiar o governo no esforço de promover uma política fiscal apoiada sobretudo no aumento da receita. A contrário, impôs ao Executivo uma acachapante derrota na questão de compensação de desonerações.

A percepção de milhares de agentes econômicos, que se reflete no preço de ativos (como o dólar) é a de que os problemas de fundo não estão sendo atacados pelo sistema político em geral, e pelo presidente da República em particular. Ele demonstra um voluntarismo no trato de temas cruciais (como as contas públicas) típicos de um Rei Sol, mas sem força para resolvê-los e, como demonstram Congresso e Banco Central, a necessária autoridade política.

Mas o que acontecerá quando ele tiver nomeado o próximo presidente do BC e a maioria dos diretores que tomam decisões sobre taxa de juros? Sem que a questão fiscal surja como “resolvida” (sobretudo em termos de projeção da dívida pública) o que sobra é a manifestada intenção de interferir por decreto na taxa de juros. Da última vez em que se tentou isso as consequências foram desastrosas.

Política fiscal expansionista, como Lula gosta, distorções tributárias e orçamentárias, com as quais não consegue lidar, e ser minoria que se comporta como se fosse maioria no Congresso resultam num contexto no qual milhares de agentes econômicos antecipam riscos e incertezas. Os juros altos refletem em boa parte essas expectativas, que os discursos de Lula não estão revertendo.

Estadão Conteúdo