Professor doa R$ 25 milhões para a USP: ‘Sou um ex-milionário sem nunca ter sido’

Professor doa R$ 25 milhões para a USP: ‘Sou um ex-milionário sem nunca ter sido’

Maior doação recebida pelo fundo da universidade será destinada a bolsas de permanência

O professor de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), Stelio Marras, surpreendeu a comunidade acadêmica ao doar um prédio avaliado em R$ 25 milhões à instituição. Aos 54 anos, Marras destinou a maior doação já recebida pelo Fundo Patrimonial da universidade para o programa USP Diversa, que concede bolsas de permanência a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

“Sou um ex-milionário sem nunca ter sido”, afirma Marras, que passou toda a sua carreira acadêmica e profissional na USP. Ele acredita que viver com simplicidade é a maior herança que recebeu de sua família. O imóvel doado, localizado em Poços de Caldas, Minas Gerais, foi herdado de seu pai, um imigrante italiano que acumulou dinheiro gradualmente ao longo da vida.

A origem da doação e a filosofia de vida

Marras enfatiza que sua decisão de doar o prédio é coerente com seus princípios de modéstia e simplicidade. “Saí de Minas para fazer faculdade. O prédio que estou doando era do meu pai, imigrante italiano que foi ganhando dinheiro aos poucos”, explica. Para ele, viver como milionário em um país com tanta desigualdade seria um ato contra a sociedade e o ambiente.

Ele ainda revela que teve altos custos com as burocracias relativas à herança, endividando-se para consolidar o imóvel em seu nome. No entanto, a prioridade de Marras é garantir que os rendimentos doados sejam usados integralmente para o programa USP Diversa, assegurando que alunos em situações econômicas adversas possam concluir seus estudos.

A trajetória na USP e o impacto da doação

Stelio Marras fez toda a sua formação na USP, onde se graduou em Ciências Sociais, tornou-se mestre e doutor, e atualmente é professor no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). Ele fundou a área de Antropologia da Ciência e da Tecnologia, onde leciona desde 2010. Apesar de inicialmente relutar em tornar sua doação pública, Marras decidiu fazê-lo para inspirar outros membros da elite a contribuírem para causas sociais.

A USP lançou em novembro do ano passado o programa Patronos do Fundo Patrimonial, destinado a captar recursos de doadores de alta renda. A doação de Marras é um exemplo significativo de como tais gestos de solidariedade podem fortalecer a sustentabilidade financeira e a qualidade do ensino e pesquisa na universidade.

Repercussão e homenagens

Desde que sua doação se tornou pública, Marras tem recebido diversas mensagens de agradecimento e apoio. Uma delas, enviada por uma ex-aluna da USP que se formou graças a uma bolsa, emocionou o professor. “Fiquei emocionada, pois um gesto como esse permitiu a transformação da história da minha vida”, escreveu Cristiane Monteiro, agora professora na Universidade Federal de Alfenas.

Marras foi homenageado em uma reunião com dirigentes da USP e patronos do Fundo Patrimonial, realizada na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, que também foi criada a partir de uma doação. Durante a homenagem, o diretor da biblioteca, Alexandre Macchione Saes, destacou a importância dessas parcerias para o avanço do conhecimento e a preservação cultural.

O funcionamento do Fundo Patrimonial da USP

O Fundo Patrimonial da USP, criado em 2021, já acumulou R$ 59 milhões em nove doações. Esses recursos são investidos e os rendimentos são usados para fortalecer a sustentabilidade financeira e a qualidade do ensino e pesquisa da universidade. Além de imóveis, é possível doar dinheiro, carros, joias, obras de arte e itens de valor cultural e histórico.

Os fundos patrimoniais, conhecidos como endowments nos Estados Unidos, são responsáveis por grande parte do financiamento das maiores universidades americanas, como Harvard, Princeton, Stanford e Yale. No Brasil, existem cerca de 107 fundos patrimoniais ativos, que juntos somam pelo menos R$ 157 bilhões. No mundo, o valor administrado por esses fundos chega a US$ 1,5 trilhão, de acordo com a Fundação Dom Cabral.

Redação Fatuz